Cristo, Tributos e Liberdade: Uma Perspectiva Libertária Cristã
Cristo não pagava impostos. Nem seus discípulos. Em Mateus 17:24-27, os coletores do imposto do templo perguntam a Pedro se Jesus paga o tributo. Pedro responde que sim, talvez por cautela, mas Jesus o corrige dizendo: “os filhos estão isentos” (v. 26). Ainda assim, para não causar escândalo, orienta Pedro a pescar um peixe com uma moeda na boca, suficiente para cobrir o tributo (v. 27). Isso mostra que, por direito, Jesus não devia nada ao sistema humano. Ele apenas escolheu evitar conflito, sem reconhecer qualquer legitimidade da cobrança.
Quando questionado se era lícito pagar tributo a César, Jesus pede uma moeda: “Mostrai-me a moeda do tributo” (Mateus 22:19). Ele não a tinha consigo, evidenciando que não participava do sistema econômico estatal. Sua resposta, “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (v. 21), não legitima César, mas separa claramente o Reino de Deus das estruturas humanas. Tudo pertence a Deus; nada, por direito, é de César. Cristo não era súdito de império algum. Sua lealdade, e a dos que o seguem, pertence exclusivamente a Deus.
No Antigo Testamento, essa rejeição à autoridade humana é evidente. Em 1 Samuel 8, quando o povo pede um rei “como todas as nações” (v. 5), Deus responde que não rejeitaram Samuel, mas a Ele: “para que eu não reine sobre eles” (v. 7). O desejo por um governo humano foi visto como rebeldia. O resultado foi opressão: o rei tomaria filhos, filhas, bens, servos e imporia tributos (vv. 11-17). A centralização de poder, a cobrança de impostos e a submissão ao domínio humano são frutos da rejeição do reinado divino.
Liberdade Cristã e a Rejeição aos Sistemas Estatais
A postura de Cristo em relação aos impostos reforça sua rejeição aos sistemas humanos. Em Mateus 17:24-27, a isenção dos “filhos” mostra que nem Ele nem Pedro pagavam tributos regularmente, pois sua lealdade era ao Reino de Deus, não a instituições humanas. O pagamento do imposto, providenciado milagrosamente, foi apenas para evitar escândalo, ecoando 1 Coríntios 8:9, onde o termo grego exousia (ἐξουσία) é traduzido como “liberdade”: “Vede, porém, que essa vossa liberdade [exousia] não se torne um tropeço para os fracos”. Cristo exerceu sua liberdade divina, mas optou por não causar conflito, sem endossar a legitimidade do tributo.
Essa liberdade também se manifesta na recusa de Cristo em usar a moeda estatal. Em Mateus 22:19, ao pedir para ver a moeda do tributo, Ele revela que não a carregava, indicando sua independência do sistema econômico romano. Romanos 13:1-7, frequentemente mal interpretado como apoio a governos humanos, usa o mesmo termo exousia para “autoridade”. Segundo o Strong’s Exhaustive Concordance, exousia significa “poder”, “jurisdição”, “liberdade” ou “privilégio”, não necessariamente governantes estatais. No contexto bíblico, refere-se à liberdade e à justiça delegadas por Deus, como no sistema de juízes do Antigo Testamento. Antes de 1 Samuel 8, Israel vivia sem reis, com juízes como Moisés e Samuel aplicando a Lei divina em uma ordem descentralizada, sem tributação opressiva ou coerção estatal.
Anarquismo Teonômico e o Agorismo Cristão
A rejeição de Cristo aos impostos e à moeda estatal aponta para uma ordem social anarquista-teonômica, onde Deus é o único Rei. Nesse modelo, a exousia é a liberdade de viver sob a Lei divina, exercida com responsabilidade para não escandalizar, como em 1 Coríntios 8:9. O sistema de juízes, que garantia justiça sem um governo centralizado, reflete essa visão. O agorismo, com sua ênfase em mercados livres e interações voluntárias, alinha-se a esse ideal. Assim como Cristo não dependia da moeda de César, o agorismo propõe uma economia livre de coerção estatal. Os juízes bíblicos, resolvendo disputas com base na Lei de Deus, são análogos à arbitragem voluntária agorista, que mantém a justiça sem necessidade de um estado.
Portanto, a visão bíblica rejeita governantes humanos, tributos e sistemas econômicos estatais. Cristo, ao não pagar impostos regularmente, não usar a moeda de César e apenas ceder para evitar escândalo, demonstra uma liberdade radical que desafia qualquer autoridade terrena. Combinada com a advertência de 1 Samuel 8 contra a centralização de poder, essa perspectiva aponta para uma sociedade anarquista-teonômica, onde a soberania de Deus garante liberdade e justiça, em harmonia com os princípios agoristas.